Desde Janeiro 2021 que temos vindo a sofrer consequências devastadoras da COVID-19 em Portugal. Após elevadíssimos números de contaminados e de óbitos, o país confinou completamente, falando-se agora de desconfinamento efetivo, ou seja, de forma a evitar subsequentes confinamentos dramáticos para a economia portuguesa e, de um modo particular, para profissionais como músicos e artistas.
Urge assim a tomada de decisões baseadas em conhecimento cientifico em todas as áreas, especialmente nas que oferecem maior risco de transmissão da COVID-19 por aerossóis, como é o caso dos músicos e, de forma particular, os cantores solistas e coralistas.
De acordo com dados publicados pela Charité Universitzästmedizine Berlin (2020), ainda não é seguro cantar!
A figura 1 que se segue apresenta a emissão de aerossóis por coralistas de diferentes naipes (da esquerda para a direita, contraltos, sopranos, baixos e tenores), cantando com diferentes intensidades sonoras: piano (cor mais pálida), meio forte (cor de intensidade media) e forte (cor de intensidade mais forte). Os pontos coloridos por cima das barras representam os valores máximos de pressão subglótica, isto é, a quantidade de pressão aplicada na fonação, correspondente à intensidade e esforço vocal aplicado pelos cantores.
Barras mais altas e mais baixas correspondem a uma maior e menor emissão de aerossóis, respetivamente. Como se pode constatar, cantar com intensidades mais fortes corresponde a uma maior emissão de aerossóis. O mesmo acontecerá se o repertório a cantar exige a produção de consoantes plosivas e sonoras. Assim sendo, a decisão sobre repertório mais adequado no que diz respeito à diminuição de risco de transmissão do SARS-Cov-2 é uma decisão que não deve ser tomada de ânimo leve: todos somos responsáveis e os maestros aqui têm o dever de tomar decisões informadas.
Da figura que se segue (Figura 2), pode-se também constatar que a emissão de aerossóis no canto é cerca de 4 vezes superior à emissão de aerossóis na fala. Mais uma vez parece importante que, ao desconfinar para atividades musicais que envolvam as práticas corais, que se realizem ensaios com coros com formações reduzidas, distribuindo o número total de coralistas por diferentes ensaios, em espaços em que haja ventilação mecânica (mais eficiente do que a ventilação manual), respeitando as regras de distanciamento radial de 2 metros e posicionamento dos coralistas, e em que o uso de máscara seja possível.
Uma boa noticia é que as crianças emitem cerca de 3 vezes menos aerossóis que os adultos durante o canto. Assim, as práticas corais com crianças antes da puberdade envolvem um risco de transmissão do SARS-CoV-2 menor do que as práticas corais com adultos, pelo que a abertura de aulas presenciais do ensino artístico poderá contar com esta informação mais animadora.
Ainda assim, parece-nos que o uso de máscara durante os ensaios, ainda que não prático, é fundamental na redução de risco de transmissão. Conforme indica a figura 4, a emissão de aerossóis é significativamente reduzida na condição em que existe maior produção de aerossóis, i.e., durante o canto em forte e em notas agudas, quando se utiliza uma máscara (barras azul e vermelha mais à direita no gráfico).
Poderá encontrar informação mais detalhada sobre estes estudos em:
https://depositonce.tu-berlin.de/handle/11303/11491.3
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0246819
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02786826.2020.1812502
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